segunda entrada: vivir para contarla






O livro é uma memória feita novela, contém a descrição da vida do autor narrada com a particular maneira que ele tem de contar suas histórias.
Para quem gostar e já ter lido alguns outros títulos de Gabo, como é conhecido, ajuda também a desentranhar as origens dos lugares, fatos e personagens que fazem parte da sua literatura.

No pessoal o livro me fez refletir sobre o espaço que a memória tem na literatura e também em nossas vidas.

Dentro da literatura a memória aparece como um tema recorrente.
Com interesse comecei procurar títulos onde ela seja mencionada, encontro assim vários clássicos brasileiros como “Memórias de um Sargento de milícias”, de Manuel Antônio Almeida,”Memórias póstumas de Brás Cubas” e “Memorial de Aires”, ambos de Machado de Assis, na literatura de outros países títulos como “Memórias de Subsolo”, do russo Fiodor Dostoievski,” Memorial do convento”, ou “Minhas pequenas memórias” as duas obras de Jose Saramago “Flush: memórias de um cão” da inglesa Virginia Woolf e a lista continua...
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Entendo assim que os romances construídos com base em recordações, seja do autor ou de personagens fictícios, ressaltam e mobilizam sentimentos.
No livro, García Marquez abre as portas da sua vida e nos permite olhar esses sentimentos no percurso da sua infância, juventude e principio da maturidade.

Respeito a nos, podemos dizer que somos o que lembramos?, sem memória não seria possível desfrutar dos momentos felizes do passado, nem poderíamos aprender das lembranças dolorosas, acabaríamos vivendo num eterno presente. O conhecimento que temos de nos mesmos surge das coisas que lembramos.
As memórias são assim construções pessoais, absolutamente subjetivas onde musicas, cheiros, sensações nos conduzem como caminhos para esse passado talvez só inventado por nos mas absolutamente real.
Daí que entendo
a primeira frase do livro:

“A vida não é a que a gente viveu, e sim
a que a gente recorda, e como recorda
para contá-la”.

Seria bom então que a nossa vida seja o bastante importante como para não deixá-la passar em vão , nutri-la de experiências para o dia de amanha ter um monte de lembranças que evocadas nos permitam ao igual que Garcia Marquez dizer: Eu vivi para contar.

Primera entrada: EL Tigre Blanco


Para nos, ocidentais, A índia se apresenta como aquela terra cheia de misticismo, a Meca de toda religiosidade profunda, aliás conhecer sobre suas misérias e uma modernização que vai deixando uma brecha maior entre classes altas e baixas, temos ainda o sentimento de uma Índia religiosa e moral que tomamos como exemplo para alcançar o mais profundo da purificação de nossas almas.
Nesse imaginário aparece Balram Halwai, o Tigre Branco, para nos dizer que isto não é verdade, que existe um “lado escuro”, um outro lado que ainda não olhamos.
Eu fico pensando: se cada sociedade tem uma cultura, linguagem, visão do mundo próprios, como compreender as ações de Balram sem cair na subjetividade de meu próprio pensamento respeito ao que é correto ou não?
Eu também estou banhada na minha cultura.
Como enxergar sem julgar, sem ter preconceitos?
Desfruto de cada página do livro, de como esta personagem conta de maneira quase autobiográfica “a triste historia de como me fui corrompendo: de como deixei de ser um doce e inocente menino para me converter num homem de cidade, entregado à depravação e a maldade”.
Será o crime uma rebelião para com essa sociedade que parece negar-lhe tudo, ate a própria dignidade? Talvez sim, pois no atraso, na corrupção enquistada na própria sociedade ele encontra as ferramentas para sair da “gaiola” na que mora.
Investigo mais um pouco... A literatura de finais do século XVIII refletiu as mudanças sociais que nesse momento aconteceram (revolução francesa, revolução industrial), autores como Balzac, Victor Hugo, Oscar Wilde ,Charles Dickens, denunciaram as injustiças, a miséria, a marginação, o abuso e a exclusão na que estavam sumidos os povos nesses tempos.
Será hoje o momento de Aravind Ariga, autor do livro, de evidenciar com seu romance o sofrimento do povo indiano, de fazer conhecer através de O tigre Branco a realidade que habita hoje nesse continente, e ficara em nos, com nosso olhar ocidental, compreender e aceitar as dicotomias que nessa sociedade existem.
“seguirei, termina o livro, dizendo que merecia a pena saber, embora seja por um dia só, uma hora só, um minuto só, o que significa não ser um criado”.